quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Caiçaras? Afinal Quem São?!


Antes de começar a dar água na boca e incentivar os leitores visitantes do CTC (Cozinha Tradicional Caiçara) a ir ao fogão com os ingredientes e as dicas de “fazimento” dos pratos da simples, fantástica e deliciosa Cozinha Caiçara, vamos falar um pouco do Caiçara, povo que vive entre a serra e o mar, e que dali tira de tudo para desenvolver uma culinária autentica e, é claro, saborosíssima!!!!

A Origem do Termo Caiçara

O termo caiçara vem do Tupi-guarani e é formado pela junção de duas palavras – caá=mato e içara=armadilha. Originalmente caá içara era como os Tupis-guaranis chamavam a cerca de proteção colocada em volta da aldeia, a cerca de pau-a-pique colocada ao redor das plantações para evitar a entrada de animais, ou ainda os galhos fincados na beira da água com os quais iam construindo seus cercos de pesca.

Cerco de Pesca
Mais tarde passou a ser o nome dado ao rancho que abrigava as canoas e os apetrechos de pesca na beira do rio ou na praia. Somente depois passou a identificar, de forma generalizada, os moradores do litoral sul do estado do Rio de Janeiro, os do litoral do estado de São Paulo e os do litoral norte do estado do Paraná.

As Comunidades Caiçaras

O surgimento e desenvolvimento das comunidades caiçaras acompanharam historicamente a ocupação do litoral brasileiro, desde a época do descobrimento e dos ciclos econômicos vividos pelas regiões sul e sudeste.

Alguns povoados caiçaras como, por exemplo, a Vila do Icapara, a Barra da Ribeira, o Prelado, Pedrinhas e o Momuna em Iguape, são tão antigos quanto as primeiras vilas e cidades brasileiras.

Durante um longo período estas comunidades litorâneas viveram relativamente isoladas dos centros urbanos e de outras comunidades, podendo assim desenvolver seus modos de vida e culturas locais específicas, muito originais e até endêmicas (cuja existência e características restringem-se a uma única área geográfica ou, ainda, a um único ecossistema).

Moldadas principalmente pelo patrimônio milenar de adaptação à floresta tropical dos Tupis-guaranis, as comunidades caiçaras desenvolveram uma cultura particular que as diferencia das comunidades tradicionais de outros estados ou regiões do interior.

A economia caiçara se encontrou durante muito tempo em um ponto entre a economia de sobrevivência e troca indígena, e a economia industrial. Se por um lado tinham a produção destinada ao consumo familiar, por outro lado, também contribuíam para a economia mais ampla e regional, comercializando a produção excedente para adquirir produtos e serviços que necessitavam, mas não produziam, como por exemplo, ferramentas, material de construção, sal, roupas, etc.

As comunidades caiçaras ocupam uma variedade de habitats e ecossistemas, por exemplo, no litoral norte do estado de São Paulo encontramos costões rochosos e pequenas praias onde a Serra do Mar se aproxima mais do litoral, formação bem diferente da encontrada no litoral sul com suas vastas planícies formadas pelo Rio Ribeira de Iguape e um litoral onde predominam o sistema lagunar, os mangues e as restingas.


Entretanto estas comunidades caiçaras compartilham elementos sociais e culturais de bases históricas e influências indígenas, negras, portuguesas, espanholas como o comportamento cultural, aspectos de linguagem e é claro a culinária.


Cerca de 89 comunidades caiçaras, formadas por 2.456 famílias, vivem ao longo dos 140km de extensão do Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá. Seu modo de vida caracteriza-se principalmente pela relação de interação com a natureza, seus ciclos e recursos renováveis. A atividade pesqueira de subsistência, sua principal atividade econômica, é realizada de forma artesanal e com baixo impacto ambiental. Tl como a economia, as atividades culturais e sociais são pautadas na organização em torno da unidade familiar, domiciliar ou comunal.

No município de Cananéia cerca de 30 comunidades caiçaras se dedicam prioritariamente a produção camaroeira por meio da pesca em canal (mar de dentro) e em mar aberto. Já em Iguape é realizada a pesca de canal voltada a produção pesqueira da manjuba e de crustáceos, onde cerca de 20 comunidades caiçaras praticam esta atividade. As sete comunidades que vivem na ilha comprida realizam a pesca de praia em determinadas épocas do ano, a extração de ostras e a criação do siri mole, enquanto a população caiçara de Guaraqueçaba, estimada em 8.400 pessoas, trabalha principalmente na pesca de canal e com a produção de tainha e caranguejo.

Os Caiçaras

Vivendo entre a serra e o mar, o caiçara combinava e, ainda combina com habilidade, suas atividades sociais (cantorias, festas, comemorações, etc.), de lazer (nadar, cantar, dançar, mergulhar, caminhar, etc.) e de sobrevivência (caçar, pescar, plantar, artes, etc.) com a natureza que o cerca.

Enquanto caminhava podia encontrar um “pau bom” para fazer sua canoa, enquanto pescava, desfrutava e contemplava o mar, conhecendo-o melhor, enquanto plantava e colhia descobria e redescobria os ciclos da natureza e se ajustava a eles.


Vivendo desta forma os caiçaras conseguiram desenvolver uma interessantíssima rede de conhecimentos, com base em uma intensa interação e na relação de complementaridade com os vários ecossistemas atlânticos. Os caiçaras, assim como nossos índios e outras populações tradicionais, talvez sejam nossos primeiros e excelentes exemplos de uso sustentável do meio ambiente.

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